Agora é inversão de papeis

  Certa vez eu te disse brincando: “tenho medo de você” e sua resposta foi clara, simples: “tenha mesmo”. Lembra-te? Mais objetivo que você, impossível.
  Eu era toda coberta de medos, criatura imatura que caía nos teus jogos, no teu colo, tão facilmente, sem desconfiar. Éramos dois super amigos, com uma pitada a mais de desejo. Uma pena que nosso doce incesto nunca teve início. Você preferiu o seu mundo, tudo bem...
  O tempo é coisa esquisita. Age nas pessoas sem que a gente sinta; não sentimos o peso na sua execução, mas sim depois da ação terminada. E hoje, para sua própria surpresa, você se mostra tão interessado, tão encantado com meu tom de voz, minhas roupas relaxadas, meu cabelo bagunçado, meus poemas e a minha vida chata e parada ...
  Poisé. O segredo é este: eu fui cobaia do tempo. Experiência viva de que tudo que vai volta. E agora dou-te um aviso: tenha medo de mim. Tenha mesmo. Medo dessa candura, medo de toda a minha poesia agindo sobre você e te fazendo se revelar. Porque hoje eu aproveito tudo que me é dado de bom grado e tomo à força aquilo que não é. E você nem percebe estar sendo roubado – você gosta.
  Eu aprendi a ser. Ser o quê? Ser todas as almas existentes em mim. Eu sou vasta. Eu sou clara. Eu sou eu sete vezes. E o mesmo eu que te ama é o eu que vai te fazer sofrer.