quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A caixinha

Guardou os bons momentos, todos o que se lembrava desde que era capaz de lembrar, colocou-os em uma caixinha, depositou cuidadosamente na primeira gaveta do criado mudo. Ficaria tudo ali, colecionaria momentos bons.
Estava decidido, não seria médica, professora ou advogada, seria colecionadora de felicidades, buscaria pelo mundo momentos bons e os eternizaria, por menores que fossem as felicidadezinhas, não tinha importância se fossem da espessura de alfinetes ou da proporção de explosões nucleares, sentir o coração bater mais forte valeria tudo.
Não estava fugindo da realidade, estava apenas exigindo menos, exigiria menos de si, menos da vida e do resto do mundo e das coisas do mundo. Exigir menos faria do pouco o suficiente, o acaso traria o muito às vezes e seria bom também, guardaria tudo.
Ela só queria ser diferente, correr atraz do prêmio que todos correm era muito chato. Seu prêmio seria diferente, só queria encher uma caixa, a caixa da segunda gaveta do criado mudo de momentos bons, de pessoas boas, de abraços e sorrisos.
Não se importaria mais com as expectativas, queria só felicidade pra caixinha. Depois de cheia, abriria a caixinha e espalharia os momentos por ai, daria sorrisos aos rostos tristes e depois de acabadas as lembranças felizes guardadas começaria tudo de novo, e de novo e de novo. A colecionadora de felicidades vagaria sempre pelo mundo até que fosse necesário um sucessor. E os colecionadores vagarão eternamente pelo mundo. Existirão sempre caixinhas pequenas e agitadas nas segundas gavetas dos criados mudos.  



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